DEBATE POR UM ALOJAMENTO
Em alguns templos Zen japoneses, existe uma antiga tradição: se um monge errante consegue vencer um dos monges residentes num debate sobre budismo, poderá pernoitar no templo. Caso contrário, terá que ir embora.
Todos os debates são fúteis e estúpidos. O próprio debater é uma idiotice, porque ninguém pode atingir a Verdade pela discussão e o debate. Você pode conseguir no máximo, abrigo por uma noite; mas isso é tudo. Vem dai a tradição.
A tradição é bela. Por muitos séculos, em qualquer mosteiro Zen do Japão, se você pedisse abrigo, antes teria que debater. Se você vencesse o debate, poderia permanecer por uma noite. Isto é muito simbólico: poderia ficar, mas apenas por uma noite. Pela manhã, teria que ir embora. Isto indica que, pelo debate, pela lógica, pelo raciocínio, você nunca consegue alcançar a meta; consegue no máximo, abrigo por uma noite. E não se iluda pensando qua a noite de abrigo é a meta. Pela manhã, será preciso caminhar outra vez.
Mas muito têm-se iludido. A lógica pode conduzi-lo para algo que está próximo da verdade, mas nunca à verdade.
Lembre-se: o que está próximo da verdade também é mentira. O que isto significa? Ou uma coisa é verdadeira ou não é; não existe meio termo. Ou algo é verdadeiro ou não é. É impossível dizer que é meio verdadeiro. É como dizer meio-círculo. O meio-círculo não existe porque a própria palavra "círculo" significa completo. Se for "meio" não será um círculo. Meias-verdades não existem. A verdade é total.
A tradição é bela. Mas preciso que você entenda uma coisa a seu respeito e sobre seu significado. ela é simbólica. Um segundo ponto a ser entendido: todas as discussões são tolas porque provocam um clima no qual qualquer entendimento entre duas pessoas se torna impossível; no qual qualquer coisa é sempre mal-interpretada. Debater é um ato de violência. Através dele, a verdade pode ser assassinada, mas não ressuscitada. O debate é sempre violento. Nele, sua própria atitude é violenta. Na realidade, você não está em busca da verdade, está em busca da vitória. Quando a vitória é a meta, a verdade é sacrificada. Quando a verdade é a meta, você pode sacrificar a vitória.
Apenas a verdade pode ser a meta; a vitória não. Quando a vitória é a meta, você se torna um político, não um homem religioso. Você fica agressivo, fica tentando vencer o outro. A verdade não pode ser uma vitória quando essa vitória significa derrotar alguém. A verdade traz humildade, modéstia. Não é uma "viagem" de ego como são todos os debates. O debate nunca conduz ao real; sempre caminha para o ilusório, para o não-verdadeiro porque a própria sensação de vitória é tão estúpida!
Verdade significa: nem "você" nem "eu". Na discussão, ou você vence ou eu venço; a verdade nunca é a vencedora.
Como você pode entender o outro se está contra ele? O entendimento é impossível. O entendimento necessita de simpatia, de participação. Entender significa ouvir o outro totalmente: apenas desse modo acontece o florescimento. Ao discutir, debater, argumentar, racionalizar, você não ouve o outro. Apenas finge ouvir e, interiormente, fica se preparando. Por dentro, você está sempre se preparando para a tacada seguinte, pronto para rebater quando o outro parar. Você fica se preparando para refutar. Não ouve. fica tramando como irá refutar o outro.
Na discussão, no debate, a verdade não é significativa. Por isso, num debate, a comunicação nunca acontece; é impossível atingir a comunhão. Você pode argumentar e quanto mais argumentar mais se separará do outro. Quanto mais argumentar, maior será a brecha - torna-se um abismo. Nenhum encontro poderá acontecer. É por isso que os filósofos nunca se encontram. O mesmo acontece com os eruditos. Eles são grandes polemistas - o abismo existe. Eles não podem se encontrar. É impossível.
Apenas os amantes se encontram, mas amantes não debatem, comunicam-se. Quando você argumenta a brecha se alarga. Se você estiver argumentando, não poderá haver uma ponte sobre o abismo. Verdade significa não argumentar.
Certa vez, Mulla Nasrudin foi ao médico - os médicos aprenderam o mesmo truque dos padres. Eles escrevem em latim, em grego ou então escrevem de tal modo que mesmo eles, se tiverem de ler o que escreveram, acharão difícil. Ninguém pode entender o que eles escrevem. Assim, Mulla Nasrudin foi ao médico e disse: "ouça, seja franco. Diaga-me apenas os fatos. Não use latim ou grego". O médico disse: "Se você insiste e se me permite ser franco, você não está doente de jeito nenhum. Você está apenas com preguiça".
Nasrudin disse: "Está bem, obrigado. Agora escreva isto em grego ou latim para que eu possa mostrar para a minha família".
As pessoas astutas sempre exploram as pessoas comuns. É por isso que Buda, Jesus e Mahavir nunca foram respeitados pelos brâmanes, pelos erudito, pelas pessoas astutas, porque são elementos destrutivos, destroem todo o negócio deles. Se o povo entender, então não haverá nenhuma necessidade dos sacerdotes. Por que? porque o sacerdote é o mediador. Ele entende a língua de Deus e a sua também. Traduz a sua língua para a de Deus. É por isso que eles dizem que o sânscrito é "dev-bhasa" (a língua de Deus). "Você não sabe sânscrito? - Eu sei, então serei o intermediário, serei o intérprete. Você me diz o que quer e eu direi isso em sânscrito a Deus, porque Ele só entende sânscrito". E, é claro, você tem que pagar por isso.
Nem Água, Nem Lua - Osho
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