A Coruja de Monte Suntria

Suntria é uma das denominações de Sintra...O Monte da Lua ...a coruja...sou eu!

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

A química nas tintas de Volpi

A química nas tintas de Volpi
Quando estudamos um artista como Alfredo Volpi, algumas de suas mais importantes características logo se destacam. Volpi foi um artesão desde o início de sua atividade profissional. Mesmo adolescente, gostava de misturar cores e descobrir novas tonalidades e texturas. Depois, ao trabalhar como pintor de parede, fazia questão de sentir o cheiro da tinta, e até mesmo sujar as mãos só para sentir seu contato com a pele. Costumava carregar os baldes de tinta, envolvendo-se na atividade com prazer e dedicação.

Quando se tornou artista plástico, o fato de trabalhar com tintas foi se transformando cada vez mais em uma atividade natural e envolvente. Alfredo Volpi fazia questão de produzir suas tintas, nas cores que lhe fossem agradáveis. Extremamente dedicado e meticuloso, preparava com cuidado suas misturas. Dessa forma, o ato de pintar para Volpi iniciava-se na construção das telas de linho, na química das tintas, e seguia até a composição final da obra. Cada uma de suas telas possui, além de seu pincel, a sensibilidade de suas mãos na escolha da cor e da textura para a obra.

Tal como um alquimista das cores, Volpi usava a técnica da têmpera-ovo. As tintas eram diluídas em uma emulsão de verniz e ovo, onde eram colocados pigmentos decantados (terra, ferro, óxidos, ocre - argila colorida por óxido de ferro) e ressecados ao sol pelo próprio Volpi.

Certa vez, ele declarou: "Só pinto à luz do sol. (...) Não uso pigmentos industriais, que criam mofo, e que com o tempo as cores do quadro perdem a vida".

Quando estava pronta, Volpi sempre testava cada tinta, experimentando e verificando a densidade e a durabilidade. Só depois que percebia que a cor obtida e desejada havia permanecido firme, sem alteração, ele a usava para pintar seus quadros. Caso isso não ocorresse, Volpi jogava a tinta fora e começava tudo de novo.
Você poderá ver fotos de Alfredo Volpi misturando suas tintas e o seu atelier nas páginas 30 e 31 do livro Alfredo Volpi, da Coleção Mestres das Artes no Brasil.
Tinta
A tinta é um líquido com pigmentos coloridos e aglutinantes solventes ou aditivos, capaz de se converter em uma membrana sólida e fina ao ser aplicada sobre superfícies como metal, madeira, pedra, papel, tecido, couro, plástico, entre outras. As tintas podem ser à base de água, óleo, betuminosas ou plásticas, e precisam de aglutinantes, que são substâncias que servem para ajudar na mistura e deixar a tinta colorida.
Aglutinante
O aglutinante funciona como uma cola, unindo as partículas dos pigmentos. Alguns exemplos são as resinas de árvores, a gema de ovo, o alho e até a cola plástica.

Nas tintas à base de água, o aglutinante é solúvel em água, como o amido e a gelatina.

As tintas prontas, como o guache, a aquarela e a cal, apresentam uma reação com o carbono do ar e se auto-aglutinam sem que nós percebamos visualmente. Nas tintas a óleo, o aglutinante é um óleo secativo, que pode ser de linhaça, de nozes, de papoula.

As tintas plásticas têm aglutinantes sintéticos e são mais duradouras e resistentes.

Pigmento
O pigmento é uma substância composta de partículas microscópicas coloridas que são misturadas à tinta de acordo com o gosto do artista. Ele não se mistura com o aglutinante e por isso tinge a tinta.

Os pigmentos podem ser brancos, pretos ou coloridos.

Alguns brancos: alvaiade, óxido de zinco, sulfeto de zinco.
Alguns coloridos: zarcão (vermelho), cromo (amarelo), ferro (azul).

O pigmento preto geralmente é o carbono elementar.

Pigmentos e corantes podem ser extraídos dos reinos mineral, vegetal ou animal. O pigmento tem uma ação mais superficial, colorindo a superfície da tela. Os corantes penetram nas fibras dos tecidos da tela. O pau-brasil e o urucum, utilizados por nossos indígenas, são corantes vegetais.

Como achar pigmentos
A terra é um pigmento mineral que pode nos oferecer vários tons de cores. Existe uma grande variedade de terra: mais fina, mais grossa, com diversas tonalidades. Ao utilizar terra em uma atividade, deve-se observar se ela está soltando muita poeira. Para verificar isso pode-se envolvê-la com um pano para, em seguida, bater nele com um sapato ou martelo. Pode-se também peneirar a terra, deixando-a sem grãos nem sujeira.

Quando for utilizar a terra como pigmento, você deve decantá-la. Coloque a terra recolhida em uma vasilha com água e espere um dia: os grãos mais pesados irão para o fundo, enquanto os mais leves ficarão na superfície. Recolha esses grãos por camadas, colocando-os para secar em um prato. Eles servirão como pigmentos para colorir a tinta.

Folhas, raízes, flores e cascas são corantes vegetais, que devem ser fervidos em água por cerca de 50 minutos. Deixando-os esfriar, pode-se verificar que o líquido obtido é capaz de manchar uma superfície. Alguns exemplos:

Amarelo ou laranja: casca de cebola, cravo-de-defunto, girassol.
Vermelho: serragem vermelha, jabuticaba, casca de nogueira.
Verde: folhas de cenoura, erva-mate, loureiro.
Preto: carvão.

Importante: Existem plantas perigosas cujo manuseio deve ser evitado. Consulte sempre um especialista ou botânico.

Ossos triturados, conchas e cascas de ovos também servem como pigmentos retirados do reino animal.
Receitas caseiras para fazer tintas
1) Guache:
Ingredientes: 100 g de pó de pintor; 30 g de glicerina; 60 g de goma arábica.
Modo de fazer: Misturar tudo e passar três vezes por peneira fina. Cozinhar em banho-maria, mexendo sempre. Guardar em vasilha de vidro. Ao usar, dissolver em água para obter melhor rendimento.

2) Anilina
Ingredientes: Pó de pintor a gosto; uma colher de chá de gesso; uma colher de sopa de goma arábica; água suficiente para dissolver.
Modo de fazer: Misture tudo. Quanto mais goma arábica for colocada, mais brilhante ficará a anilina. Colocar em vidros fechados.

3) Outra receita
Ingredientes: Uma folha de papel de seda de cor viva; uma colher de sopa de álcool; uma xícara de café de água. Modo de fazer: Misturar tudo e deixar em fusão por dois dias. Guardar em vidro fechado.

4) Massa para pintura a dedo
Ingredientes: Uma xícara de polvilho ou trigo; uma xícara e meia de água fria; duas xícaras de água fervente; uma xícara de sabão em pó; uma colher de desinfetante líquido, de preferência Lysoform; uma colher de sopa de glicerina; qualquer corante.
Modo de fazer: Dissolver o polvilho (ou trigo) em água fria, adicionar aos poucos a água fervente, mexendo rapidamente para não encaroçar. Levar ao fogo, mexendo sempre. Quando estiver na consistência de mingau, retirar e deixar esfriar.

Adicionar o sabão enquanto o mingau estiver morno, em seguida a glicerina, o desinfetante Lysoform e o corante, se quiser que a massa fique colorida. Conservar em lugar fresco.

A têmpera-ovo
Um pouco de história
A têmpera é a tinta mais antiga que conhecemos. Os artistas pré-históricos do Período Paleolítico faziam misturas com água e pigmentos naturais, como óxidos minerais, carvão, vegetais, sangue de animais e ossos carbonizados, que costumavam ser misturados na gordura de animais mortos. Na Antiguidade, na Idade Média e no Renascimento italiano, a têmpera-ovo foi muito utilizada pelos artistas na produção de iluminuras medievais e pinturas sobre suportes de madeira.
Como fazer
Na têmpera-ovo, o aglutinante é a gema, que é preparada da seguinte forma: separa-se a gema da clara do ovo, colocando-a em um copo com fungicida e misturando-a bem com uma colher. Ao misturar água, pigmento e esse aglutinante, você vai obter uma tinta mais transparente - como a aquarela. Se quiser uma tinta mais espessa - como o guache -, adicione talco, giz ou carbonato de cálcio.

Referências bibliográficas
- Revista Nova Escola, outubro/98.
- FERREIRA, Idalina L. e CALDAS, Sarah P. Souza , Atividades na Pré-Escola, reformulada, 18a edição, Editora Saraiva, 1999.

Sem comentários:

Enviar um comentário